A maior parte do tempo que Shakira está gravando música em Nassau, perto de sua casa nas Bahamas, ela usa pijamas o dia todo e quase nunca usa sapatos. Mas hoje deveria ser seu último dia de trabalho em ‘She Wolf’, o álbum que ela tem criado por um ano, então ela decidiu celebrar usando um cordão prateado, um longo vestido preto de alças e saltos plataforma que elevam seus um metro e meio como se fossem pernas de pau. “Meu namorado tem um metro e 80 e às vezes me sinto como se fosse seu chaveiro, uma coisinha pequena”, ela diz, e então suspira. “Estou tão pronta para terminar isto!”, ela exclama. “Acabei de dizer para meu agente, estou pronta para cabelo e maquiagem. Só me tire daqui.” Conforme Shakira caminha para o estúdio, porém, seu humor começa a mudar. Quando ela não consegue achar as chaves de seu carro em sua bolsa de mão Gucci, ela procura por elas com a intensidade de alguém que perdeu seu passaporte antes de um vôo internacional. Uma vez achadas as chaves, ela sobe em sua impecável Mercedes SUV, põe ‘Dark Side Of The Moon’, do Pink Floyd, para tocar e se encaminha por uma estrada costeira em zigue zague, fazendo o que parece ser um contorno bastante ilegal, ao menos de acordo com os padrões norte-americanos. Por um lado, a pista está coberta com a densa folhagem das mangueiras e, por outro, há uma ampla vista do Caribe, à qual ela lança um olhar cheio de vontade. “Faz muito tempo que não vou à praia”, ela lamenta.
Já há um tumulto de atividade no estúdio, com a exausta equipe de Shakira teclando compulsivamente em seus Blackberrys e engenheiros fazendo ajustes na sala de controle (“Os faço criarem todos os meus K’s e R’s no computador, porque não consigo produzí-los com meu sotaque”, ela diz). O Compass Point Studios foi fundado em no fim da década de 1970 por Chris Blackwell, da Island Records: O AC/DC gravou três disco aqui, incluindo ‘Black in Black’, e os corredores são repletos de discos de ouro e fotos de artistas dos anos 80 se refrescando no Caribe, alguns usando bermudas azul-claras e óculos espelhados. “Sou uma grande fã de Bob Marley, The Cure e AC/DC, e quando ouvi falar deste lendário estúdio onde todos eles gravaram, sabia que deveria vir para cá”, diz Shakira. “Este lugar é a principal razão para eu ter me mudado para as Bahamas”.
Como musicista, Shakira é perfeccionista – “sou aquariana, mas me transformei numa virginiana com o tempo”, ela conta. Ela escreveu 60 músicas para ‘She Wolf’, as reduzindo a 10 no estúdio nos últimos quatro meses. Hoje, ela deveria enviar nove faixas para a mixagem e finalizar “Spy”, uma música em duas etapas com Wyclef Jean para que também possa ser mixada amanhã. “Esta música é como um projeto de casal”, ela fala. “Nós construímos a casa juntos, mas os homens não se concentram muito nos detalhes. Agora, eu sou a esposa que fica para trás para pôr as flores no vaso”. Seu processo como produtora é ouvir tanto com seu corpo quanto com seus ouvidos. Na verdade, “Hips Don’t Lie”, a primeira colaboração com Wyclef Jean e o single mais bem sucedido de sua carreira, é uma frase que ela usa no estúdio há muito tempo: Eu digo: “Ei, você está vendo meus quadris se moverem?” ela conta, rindo. “Não? Isto não está bom, meus quadris não mentem”
Uma assistente traz um jarro com café e Shakira se serve com uma xícara. “Parei com café por seis meses porque quando bebo café eu tenho muitas vontades”, ela conta. “Agora preciso de café três vezes por dia”. Ela está tentando cuidar do peso, mesmo embora não precise. Ela é perfeita, com um expressivo rosto em formato de coração, sobrancelhas grossas e um corpo super tonificado sem os auxílios cirúrgicos na parte de cima que geralmente completam a imagem. “Na Colômbia, sou a única mulher que não tem. Os cirurgiões colombianos são os melhores, junto com os brasileiros, na América no Sul. Lá é mais barato e os médicos os deixam bem naturais, muito bom”.
Ela entra na sala de controle. “Está pronto?”, ela pergunta a Gustavo Celis, um engenheiro de som ganhador do Grammy, esperando ouvir a mixagem dele para “Men in This Town”, uma faixa sobre mulheres solteiras desesperadas rondando em busca de caras decentes em lugares como o Sky Bar, em Los Angeles. (nota para Shakira: Nem há nem nunca houve nenhum cara decente no Sky Bar).
“Preciso de um pouco mais de tempo”, diz Gustavo, tremendo.
Ela torce os lábios. “Posso ouvir o que você fez até agora?”
Celis balança a cabeça. “Bem, é o mesmo de ontem”, ele admite.
“É mesmo”, diz Shakira, se alongando na palavra. Irritada, ela bate com os dedos em um bloco de notas à sua frente. Não sei se conseguimos terminar isso tudo hoje, ela diz. No fim das contas, este pode não ser o último dia de gravações.
Mas o disco está atrasado – Será que ela sofrerá represálias de sua gravadora por não cumprir o prazo novamente? Ela levanta a cabeça, considerando a pergunta. “Você quer dizer que eu talvez tenha que implorar por mais tempo?”, ela pergunta. “Implorar? Ah, não. Não”.
Não é necessário dizer que esta não foi a última noite de gravação de Shakira. Ela está infinitamente atrapalhada com ‘She Wolf’, por que se preocupa muito com o sucesso do disco. “Sei que este é o meu momento na América”, diz Shakira, que já é uma superstar global com 50 milhões de cópias vendidas e ganhos de mais de 100 milhões – mesmo não estando exatamente no território de Beyoncé. “Esta é minha chance de consolidar uma carreira e meus sonhos como artista nos Estados Unidos para que possa continuar fazendo música por muito tempo e viajando o mundo”. Pode parecer frio e calculista, mas para Shakira, é um momento emotivo: Depois desta turnê, ela quer começar uma família. “E esta é muito menos uma decisão intelectual do que um chamado físico”, ela conta, um flash de entusiasmo passando por seu rosto. “Meu corpo parece pedir para reproduzir, ter uma barriga enorme e carregar bebês. E quando o bebê chegar, não quero estar em meio a cem mil projetos”
She Wolf é apenas o terceiro álbum de Shakira em inglês, e ela nem mesmo falava a língua até o fim dos anos 90 – ela aprendeu sozinha ouvindo o ritmo das músicas de Leonard Cohen e Bob Dylan. “É interessante para mim que na minha adolescência, eu era uma menina roqueira, ouvindo Aerosmith a Tom Petty e não havia absolutamente nenhuma influência latina em minha música”, ela fala. ”Quando comecei a cantar em inglês, fui em busca das minhas raízes latinas e do oriente Médio, experimentando com fusão e outras culturas. Agora quero ser livre para fazer tudo o que quiser musicalmente. Acho que a dance music hoje tem muito a oferecer neste sentido. San Endicott, vocalista da banda The Bravery e co-compositor de ‘She Wolf’, diz que “Shakira é mente aberta. Adoro o fato de ela uivar em ‘She Wolf’. É tão bizarro e legal”.
Em setembro, depois de o single ‘She Wolf’ não conseguir pegar fogo nas rádios norte-americanas – a faixa subiu ao número 11, mas nunca entrou no top 10 – parece que Shakira e sua gravadora resolveram pegar pesado para conseguir um single que conseguisse. Um dia antes do Video Music Awards, 12 de setembro, Amanda Ghost, diretora da Epic e co-autora de Gypsy – um possível terceiro single para o álbum – diz que recebeu uma ligação de Timbaland a convidando para visitá-lo no Trump Palace. Ele queria que ela ouvisse ‘Give It Up To Me’, uma faixa que ele tinha em mente para Shakira, mesmo embora o disco ‘She Wolf’ já estivesse pronto. “Odeio mudar planos” Ghost diz, “mas o ramo musical é o Wild West agora, então estou rasgando o livro de regras e começando de novo”. Ela tocou a música para Shakira no carro no caminho para o VMA e elas decidiram adiar o lançamento do dia 12 de outubro para 23 de novembro. “Nós dissemos ‘foda-se’”, fala Ghost.
Mas o drama não acabou ali. Shakira preencheu suas partes em “Give It Up” à distância, escrevendo a letra em um carro durante sua visita promocional à Alemanha e usando um de seus dias livres em Londres para gravar. A principio, parecia que Timbaland ia fazer toda a parte do rap na faixa, mas então contrataram Flo Rida para interpretá-la – mas então, conta Ghost, “Todo mundo ficou sem reação quando Lil Wayne disse que gostaria de entrar no projeto”. Mesmo embora agora Lil Wayne e Shakira dividam os créditos na música, eles só se encontraram uma vez, rapidamente, quando aterrissaram no aeroporto nas Bahamas ao mesmo tempo. “Esta é a abordagem moderna para as coisas, com pouco tempo e muita coisa acontecendo”, diz Shakira rindo lindamente. “Acredito que vou vê-lo quando gravarmos o vídeo”.
Shakira é uma das maiores sedutoras do mundo e esta risada é parte disto, uma longa seqüência de gargalhadas rápidas como fogo que são tão fofas que poderiam vir de um filhote de unicórnio. Ela tem duas faces: por um lado, totalmente adorável, tão charmosa quando sua dança do ventre poderia demonstrar; por outro, uma diva difícil e manipuladora que não se importa em lançar o mundo no caos contanto que consiga o que quer. É assim que pode ser com mulheres poderosas e não é a maneira mais iluminada de ser, mas Shakira se considera uma feminista fervorosa. Ela se cerca com mulheres “fortes, determinadas e lutadoras” e pode discursar por horas sobre as injustiças enfrentadas pelo sexo feminino.
Ela está entusiasmada com o vídeo de ‘She Wolf’, que conta com movimentos de contorcionismo pornô dentro de uma vagina gigante, mas ficou assustada quando sua mãe não ficou muito animada com o clipe. “Eu fiquei surpresa a princípio e pensei em como seus fãs e colombianos veriam”, diz a mãe dela, Nídia, direto da Colômbia, por telefone. No fim das contas, ‘She Wolf’ é sobre a dificuldade das mulheres em se satisfazerem em uma sociedade em que os homens estão no comando. “Vivemos em uma sociedade que reprime os sonhos subconscientes das mulheres”, fala Shakira, seus olhos cerrando. “Você sabe, as mulheres têm que fazer esforços enormes durante a vida, muito maiores do que os homens. Nós lidamos com tantas pressões: a pressão da estética e como a sociedade quer que sejamos enquanto mães, filhas e esposas. E então, além de tudo isto, nós temos que dar duro na academia tentando nos livrarmos da celulite”.
É isto que também está na agenda de hoje: Enquanto espera o engenheiro terminar a mixagem, Shakira pega uma bolsa de couro preta com roupas de ginástica e se encaminha aos fundos do estúdio, onde uma pequena treinadora montou uma academia para ela malhar duas horas por dia. Dúzias de tiras de elástico estão presas ao teto e um aparelho de step está posicionado em frente a um espelho, pronto para fazer sua parte em regime diário de zilhões de agachamentos de Shakira. “Eu faço os agachamento até minhas pernas estarem prestes a cair”, ela conta. “Nunca fui para a academia antes da vida, mas aos 32 eu percebo que meu corpo responde de forma negativa a comida de má qualidade, então tenho que dobrar meus esforços”
Dobrar o esforço é o jeito de Shakira se mover no mundo: Ela conduz negócios tanto no mundo que fala inglês quanto no mundo que fala espanhol, e está produzindo ‘She Wolf’ em duas línguas ao mesmo tempo. Seu próximo álbum provavelmente será todo em espanhol e ela está se preparando para uma turnê mundial depois disto. Na verdade, seu namorado Antonio de La Rúa, filho de um ex-presidente da argentina e investidor, recentemente viajou para a Colômbia e ajudou a realizar pesquisas para o novo álbum em espanhol. “Nós voamos por diferentes vilas, mesmo nas áreas mais escondidas da floresta onde ainda se fala dialeto africano”, diz o produtor John Hill, que acompanhou Antonio da expedição. “Gravamos compositores de 85 anos, grupos de acordeão infantis, pessoas cantando nas ruas – apenas pegando coisas para inspirar Shakira para o disco”.
Produto de um casamento tardio entre uma colombiana e o dono de uma joalheria de descendência libanesa com sete filhos de seu primeiro casamento, Shakira parece ter sido sempre guiada: Ela começou a fazer dança do ventre aos quatro anos, quando assistia a uma performance em um restaurante típico do Oriente Médio. “Gostei tanto que pedi que meu pai me arrumasse música árabe e minha mãe comprou um vestido turquesa feito sob encomenda para eu praticar”, ela conta. Ela começou a escrever músicas por volta dos oito anos, então foi matriculada em um curso de modelo e se apresentou no circuito colombiano antes de conseguir um contrato com a divisão latina da Sony aos 13 (ela encurralou um representante da gravadora no lobby de seu hotel para conseguir uma audição). Seus dois primeiros álbuns, porém, não foram bem sucedidos ela foi forçada a participar de uma novela que lhe rendeu o título de ‘Melhor Bumbum da TV’ em um jornal. Ela finalmente alcançou as paradas de sucesso em 1994 com um álbum de rock, Pies Descalzos. “Continuei freqüentando a mesma escola depois disso”, ela fala, “mas comecei a dar autógrafos na aula”.
Atualmente, Shakira não passa muito tempo na Colômbia, embora seus pais ainda morem lá, mas é profundamente dedicada a resolver os problemas sociais da nação, um produto de corrupção do governo e 30 anos de guerrilha. Ela mantém o que corresponde a uma outra carreira como defensora da educação infantil precoce, falando em fóruns ao redor do mundo e construindo escolas básicas na Colômbia, através de suas três Fundações. “Shakira é uma mulher jovem, mas poderia ter 50 anos”, fala Maria Emma Mejía, diretora de uma delas. “Ela tem uma disciplina excepcional”. As escolas são administradas em parceria com o governo, mas oferecem uniformes, aulas de dança e música e, em alguns casos, até mesmo contratam as mães dos alunos para cozinhar refeições nutritivas. “Na América latina, há um circulo vicioso estúpido segundo o qual se você nasce pobre, morrerá pobre”, Shakira diz. “Estamos tentando mudar isto”.
A recusa em manter a mesma situação se tornou muito importante para Shakira, e isto é parte do motivo pelo qual ela se recusa a casar com seu namorado, mesmo embora eles sejam monogâmicos e estejam juntos há nove anos. “É engraçado como os jornais querem te ver casada e depois querem te ver divorciada”, ela conta, com um flash de ódio. “bom, não vou fazer nada disso”. Ela também pode ter repudiado o catolicismo, embora ela vá dizer isso explicitamente: “Me tornei muito prática, muito racional. Se não vejo, não acredito”. Durante a noite, quando seus assistentes começam a contar histórias sobre fantasmas no Compass Point Studios, ela diz: “Eu tinha tanto medo de fantasmas quando era mais nova. Não mais! Não acredito em nada dessa porcaria”. Ela ri e depois muda para um tom debochado, respeitoso: “Ah, desculpa. Onde quer que estejam, me perdoem!”.
Para seguir seu próprio caminho, Shakira vai a um psicanalista freudiano, um analista de 70 anos que ela visita com freqüência quando está em Nova Iorque e com quem ela fala pelo telefone de qualquer outro lugar. “Adoro ver um mapa do meu subconsciente e ter um espaço que é apenas meu, onde esta mente pode falar e posso ouvi-la”, Shakira fala. “Ela é o capitão do nosso barco e do nosso destino”. Ela acha que ficou um pouco presa à etapa da fixação oral da vida. “Sempre vivi através da minha boca, como uma pessoa na cadeia vive através de uma janela. É minha maior fonte de prazer: o que digo, o que canto, os beijos que dou, o chocolate que como”
Mesmo com discursos como este Shakira ainda é uma boa menina, uma superadora dos próprios limites. É difícil não sentir pena conforme ela sua para alcançar o estrelato sob a pressão intensa de começar uma família. Após a malhação, ela começa a se esforçar ao máximo durante um longo dia no estúdio. Com seus dois enormes assistentes, ela agoniza por uma hora ao falar sobre um compromisso promocional em Miami que se aproxima. Os três trabalham e conversam intermitentemente com seus Blackberrys como advogados de defesa preparando resumos, balançando suas cabeças diante da inaptidão das pessoas do outro lado das mensagens. Logo depois, eles se dirigem a uma sala de reuniões para pensar a respeito de capas para o disco em potencial em um laptop. Shakira vê centenas de imagens, a maioria com diferenças imperceptíveis, enquanto os assistentes murmuram sobre seu ombro: Uma é “muito confusa e ininteligível apara a mente capturar”; outras são “masculinas, exageradamente”. Ela sussurra: “a fonte tem que ser mais livre”, movendo a mão ao redor. “o ‘She Wolf’ tem a ver com fazer o que você quer!”
São quase 10 da noite quando Shakira finalmente entra em conferência via Skype com o engenheiro de Wyclef Jean em Nova Iorque para discutir as 15 versões de “Spy” que ele a enviou mais cedo. Ela se senta em uma cadeira concentrada no computador, anotando mudanças para o trompete, bateria e vocais em um bloco de papel em branco. “O Wyclef está meio que enterrado ali agora”, ela fala, “ele é meu amigo, tenho que protegê-lo”, ela ri. “Sabe, estas músicas foram gravadas quando eu estava em Paris – vinho, queijo. Não dá pra recriar esta merda”. Ela tira uma lixa de unhas, sacudindo a cabeça. “Ontem, quando tivemos uma conferência eu estava horrível”, ela fala. Ela põe os pés descalços na beirada da mesa de som e os cruza. “Isto é tudo que eu ponho da web cam para ele ver: meus pés descalços”.
A ligação continua por mais algumas horas antes de Shakira finalmente se voltar para suas mixagens. “Ah, minhas vontades daquela xícara de café”, ela fala. “Quero chocolate” Ao invés disso, ela opta por satisfazer sua fixação oral com uma xícara de cereais (“130 calorias em uma xícara! Isso é demais!”) e um picolé em miniatura que ela fez congelando Jarina, uma fruta que ela diz ser encontrada apenas em Barranquilla. “Tentei plantar jarina aqui, mas não deu certo”, ela diz, segurando seu estômago com fome. “Sou viciada em açúcar e tarde da noite é um período ruim. É quando eu faço coisas erradas. Não! Quis dizer, como coisas erradas”. Então ela adiciona, “um deslize freudiano”.
A mixagem continua e ela fica em pé no meio da sala. Seus sapatos estão longe – seu vestido é tão longo que, sem eles, ela não consegue evitar pisar na bainha. “Estou de volta ao meu tamanho regular”. Então ela fecha os olhos. “Tenho que me concentrar 100 por cento da minha energia física e intelectual na música”, ela diz em seguida. A música começa e, pela primeira vez, ela fecha a cara completamente – derrepente, ela se transforma em um totem e mesmo seus lábios parecem perder o formato arredondado, se transformando em uma linha sólida. Então ela começa a se mexer e desta vez sua dança não é sedutora, não para um homem, não para as câmeras. Ela mexe os braços, sua barriga pulsando de forma estranha. É como se ela estivesse possuída.
Quando seus olhos se abrem, eles estão brilhantes, quase como se ela estivesse petrificada. Ela põe o palito do picolé dentro da xícara de café vazia e deixa escapar uma tremenda risada. “Que inferno”, ela fala. ”Vamos mandar isso para a masterização. Deve ser porque meus ouvidos estão fechando, mas agora eu deixo com todos vocês e suas consciências! Editem e eu ouvirei no disco”. Ela fecha os olhos de novo e, pela primeira vez, ela parece estar em paz. “estou sentindo”, ela diz.
Fone: Rolling Stone USA