Shakira apresentou seu projeto na Cúpula Ibero-americana na última sexta-feira. Dirigindo-se aos presidentes presentes no evento, Shakira iniciou seu discurso agradecendo ao “convite cordial” para participar da reunião.
“ Estamos aqui para a criação de uma grande aliança entre o setor público e a sociedade civil para proteger os seres mais frágeis de nossa região: as crianças. Não viemos aqui pedir o impossível, senão algo que acreditamos que esteja ao alcance de nossas mãos. 22 milhões de crianças na América latina sofrem hoje as conseqüências da desigualdade social e econômica em nosso continente, e as sofrem da pior maneira, da maneira mais violenta que uma pessoa pode sofrer: com a fome. Por elas, propomos a formação de um grupo de trabalho liderado por vocês com o objetivo de desenhar soluções em conjunto para alimentar e educar nossas crianças e buscar a avanços mais significativos.
Temos consciência de que os tempos que vêm serão difíceis e imaginamos que vocês deverão enfrentar muitos desafios para proteger os sistemas financeiros, para sustentar as moedas, para equilibrar os orçamentos. Sabemos que carregam um grande peso e que deverão tomar duras decisões nos próximos meses
Mas acima dos bancos e das instituições e da política está a vida das crianças. Sabemos que no meio dessa crise financeira global, a fome se estenderá pelas camadas mais pobres de nossas sociedade e que milhares de crianças poderiam morrer por falta de alimento. Por isso devemos nos preparar, senhores, com um plano de ação organizado para atuar rápido e com contundência. Nós, artistas, fizemos o exercícios de unirmos para poder fazer mais. A ALAS é um movimento de conscientização, não pretendemos arrecadar dinheiro, não é que fazemos, não é a que nos dedicamos a não ser com o seu compromisso decisivo e imprescindível para poder educar e alimentar a população infantil sobretudo os menores de seis anos. Todos os especialistas que consultamos concordam que esses primeiros seis anos são os mais críticos, os mais fundamentais na vida de qualquer ser humano. Nesses primeiros seis anos se determinam o futuro de um ser humano, se desenvolvem seu cérebro e suas capacidades ao máximo, ou se perdem para sempre. As crianças que passam por centros educativos de desenvolvimento infantil precoce serão sempre pessoas melhor integradas à sociedade com melhores rendimentos acadêmicos, poderão obter empregos dignos em suas vidas adultas e poderão romper para sempre o ciclo vicioso da pobreza que os prende.
Como sabem, a educação impacta cada aspecto do desenvolvimento socioeconômico. Um só ano de educação primária aumenta de 10 a 20 por cento os rendimentos de uma pessoa em sua vida adulta. O Banco Interamericano de Desenvolvimento encarregou os economistas mais importantes da região de investigar qual o melhor investimento que um governo pode fazer e a resposta da maioria foi a educação de zero a seis anos. Para cada dólar investido na educação precoce de uma criança, essa criança devolve ao estado 17 dólares. Queridos presidentes, a educação é o futuro. E a fome é a urgência que apresenta esta crise internacional. Se nos comprometermos, podemos mudar isso. Podemos mudar esta equação de que cada criança que nasce pobre em nosso continente, morre pobre por falta de oportunidades. Quando não podemos garantir a uma criança seus direitos básicos à educação, como podemos então, como pode a sociedade exigir algo deles como adultos? Não nos surpreenderemos quando estas crianças abandonarem a escola por que não conseguem aprender nada ou não nos surpreenderemos quando estas crianças forem absorvida pelos grupos criminosos, pelas milícias. É tempo de evitar. Temos uma oportunidade de ouro em nossas mãos e essa oportunidade se chama desenvolvimento infantil precoce. Hoje será aprovado por vocês, graças à todos que fizeram possível este encontro, a criação de um espaço que nunca antes existiu para os menores de zero a seis. É um grupo de trabalho regional com a participação de entidades multilaterais como o Banco Interamericano de Desenvolvimento, a OEI, UNICEF a Organização Pan-americana de Saúde, entre outros, e este grupo de trabalho regional seria liderado pela secretaria geral ibero-americana e conformado por delegados de cada um de nossos países e contaria com cinco pontos básicos:
O primeiro é reunir informação e definir as melhores práticas de Desenvolvimento Infantil Precoce. O segundo é estabelecer estratégias financeiras para programas que contemplem este tipo de educação precoce. O terceiro seria o monitoramento dos progressos realizados em cada país. O quarto, muito importante, seria a preparação de programas piloto em cada país que possam ser revisados em 2009, na próxima Cúpula Ibero-Americana em Portugal e quinto, a elevação, na próxima cúpula, dos programas com melhores resultados para que possam ser replicados no resto da região.
Senhores presidentes, que defesa de nossas crianças seja um interesse comum de todos os governos aqui presentes e não presentes, acima das discrepâncias ideológicas e políticas que possam existir entre vocês. Obrigado por nos escutar, obrigado por se ocupar, obrigado por se animar, por colocar seus corpos para enfrentar nossos problemas atuais e que na união de todos os povos latino-americanos representados aqui por vocês hoje encontremos forças para defender nossos menores nestes tempos difíceis. Muito obrigado.”