Antes de Beyoncé ser Beyoncé, Shakira era Beyoncé. Não que B não seja original de muitas maneiras, mas os fãs de Shakira certamente tiveram experimentaram um déjà vù conforme viam a carreira de Beyoncé surgir: o cabelo loiro incongruente, o atletismo curvilíneo, o clima inteligente e inovador da mulher independente, o erotismo estranhamente sadio que parece variar constantemente entre as classificações ‘livre’ e ‘impróprio para menores de 18 anos’… Tudo isso parece um pouco familiar. Quando Shakira e Beyoncé de fato se uniram para um dueto alguns anos atrás, com “Beautiful Liar”, não funcionou muito bem, por que era quase como ver Shakira interagir com um espelho ao invés de com uma artista complementar.
Agora Shakira tem um novo vídeo, ‘She Wolf’, que é tão compulsivamente assistível que não é de espantar que esteja no primeiro lugar de vendas do iTunes agora. O tema ostensivo de seu primeiro single é a necessidade de liberar a sexualidade feminina, representada na imagem do lobisomem (mais na letra do que nas imagens). “Uma garota domesticada, é tudo o que você quer de mim/ Querido não é nenhuma piada, isso é licantropia”, Shakira canta, prometendo a seu parceiro que se não conseguir o que precisa em casa, terá que sair para fazer a ronda.
Mas aqui, em poucas palavras, está o verdadeiro tema do vídeo: Vou fazer Beyoncé parecer uma velha dura e cheia de artrite.
Nem os melhores contorcionistas do Cirque du Soleil nem a mais musculosa atriz pornô no mercado tem a chocante flexibilidade de Shakira. Nós vemos coxas incrivelmente torneadas irem a lugares a que coxas que não deviam ir… então, você sabe, nossos cumprimentos ao chef, à coreógrafa e, acima de tudo, ao aparelho de abdução de quadril. Shakira faz seu corpo parecer quase um efeito especial digitalizado, especialmente quando está usando um body de corte bizarro que parece um pouco com um símbolo yin-yang trazido à vida.
Há também um traje cor de pele, mas quando você começa a ter a impressão de que o vídeo está à beira de ser classificado como ‘Não Seguro Para o Trabalho’, ela amarra tudo com um vestido preto mais recatado, lançando um doce sorriso e, de repente, parecendo quase inocente.
O tema do lobisomem é apropriado para Shakira, por que ela vive mudando de forma como artista. Você precisa vê-la num show para ter uma idéia da amplitude real de seu talento, que pode ser um pouco escorregadio para ser compreendido. No palco, um minuto ela está fazendo a dança do ventre como mais ninguém no Mercado e no próximo, pega a guitarra para fazer uma aproximação com muita propriedade do estilo ‘cantora e compositora do rock’ de Sherryl Crowl, seja em español ou em ingles.
Em outras palavras, ela é mais do que pura fisicalidade— mas tampouco parece se importar se alguém tem a impressão equivocada de que é disso que ela se trata. E certamente haverá muitos homens, e talvez mais do que umas poucas mulheres, que vão assistir esta artista se expressar ao fino som de ‘She Wolf’ e pensar que o cérebro é só o molho. A música-tema de David Bowie para o mais famoso filme sobre licantropia como forma de sensualidade, ‘Cat People’, falava sobre ‘atear fogo com gasolina’. Em ‘She Wolf’, Shakira ateia fogo com uma bomba nucelar.
Ou, como Beyoncé cantou recentemente, (ou talvez devesse ter cantado): “Se você gostou, devia ter colocado uma coleira…”
Fonte: yahoo! Music