Revista Época: Shakira, a potência latina

Na última vez em que Shakira se apresentou para o grande público no Brasil, em 1997, ela não passava de uma cantora do pop adolescente que tentava aprender português para conquistar o mercado brasileiro. Nesta semana, ela retorna ao país para três shows como uma das maiores estrelas mundiais. A cantora e compositora colombiana é o maior fenômeno musical sul-americano de todos os tempos. Em vez de sucumbir ao regionalismo, como outras estrelas locais, Shakira se transformou em uma potência latina global.

A façanha de Shakira não está apenas em ter conseguido arrebatar plateias internacionais, algo que sempre planejou. Ela ajudou a alterar os rumos do pop mundial, harmonizando sons de diferentes origens, muitos até então impensáveis para o gosto desse público.

Shakira Isabel Mebarak Ripoll já nasceu internacional. Natural de Barranquilla, Colômbia, ela é descendente de italianos, libaneses, americanos e catalães. Em pouco mais de 20 anos de carreira, seu raro apelo global a ajudou a se tornar uma estrela mundial. Em seu currículo constam mais de 200 prêmios, 50 milhões de discos vendidos e um dos singles de maior sucesso do século XXI, “Hips don’t lie” (“Quadris não mentem”), de 2006, que chegou ao topo das paradas em 55 países.

Agora, aos 34 anos, está no ápice de seu talento. Não é só por causa de sua voz forte de mezzo-soprano e do movimento franco e sensual de quadris – várias brasileiras têm essas virtudes. Com esses atributos, a cantora mais popular do Brasil, Ivete Sangalo, até tentou se lançar mundialmente no show no Madison Square Garden, em Nova York, no ano passado. O jornal The New York Times chamou seu espetáculo de “brasileiro demais”. Shakira conseguiu se destacar de artistas brasileiras, argentinas, peruanas etc. porque percebeu que teria de gravar em inglês para os americanos, ao menos no começo de sua transição para esse mercado, com um repertório que os surpreendesse. A poção inovadora de seu sucesso – que poderia servir como lição para as estrelas brasileiras – é composta de três ingredientes: capacidade de adaptação, oportunismo e curiosidade sonora.

Aos 23 anos, Shakira já tinha tomado o grande mercado da música popular hispano-americana. Era uma estrela teen celebrada do México ao Uruguai. Percebeu então que lhe faltava anexar um único país: o Brasil. Aprendeu o português até se tornar fluente e, em 1996, lançou-se aqui com sucesso, em uma operação artística inédita. Até então, o exército de astros latinos, como o cantor porto-riquenho Luis Miguel e a banda mexicana Maná, entre outros, tinha a presunção de manter seus fãs brasileiros cantando em espanhol.

Em 1998, Shakira decidiu se mudar para Miami para realizar o mesmo ataque, agora contra o território americano. Em três anos, aprendeu a falar e a escrever em inglês, lançou o sucesso “Whenever, wherever”em parceria com a estrela cubana Gloria Estefan e gravou o CD MTV Unplugged. Em 2002, seu CD Laudry service tornou-se sucesso mundial, com 20 milhões de cópias vendidas. Em 2005, com dois álbuns, um em espanhol e o outro em inglês – Fijación oral vol. 1 e Oral fixation vol. 2 –, ela já havia dominado o continente inteiro.

Seu senso de oportunidade contou. Até chegar ao sucesso, ela tirou da frente todo tipo de obstáculo, de namorados a contratos desvantajosos. Começou por ganhar as graças do escritor colombiano Gabriel García Márquez, que a entrevistou em 1999. Em 2001, envolveu-se com o empresário Antonio de la Rúa, filho do então presidente argentino, Fernando de la Rúa, e começou a lançar produtos. Aliou influência política, marketing e humanitarismo. Criou a fundação Pés Descalços, para desenvolver projetos educacionais na Colômbia. Logo se envolveu com a Unicef em ações mundiais contra a fome e o analfabetismo.

Confira vídeo de Shakira em show:

Shakira também é conhecida como mulher de negócios responsável. “Ela é superprofissional”, diz Grecco Buratto, guitarrista brasileiro que a acompanha. “Em Buenos Aires, dormiu só uma hora na noite anterior, mas na hora do show estava lá, pronta.” E brilhou diante de um público de 40 mil. Em 2008, Shakira designou seu irmão, Aito, que morava na Espanha, para consolidar sua imagem e desenvolver seus negócios na Europa. Em meados de 2010, usou a Espanha para lançar o perfume que leva seu nome. Hoje, seu capital é multimilionário. Só com sua última turnê arrecadou US$ 100 milhões.

música foi o fator essencial para a poção Shakira. Pesquisadora desde criança, ela conjugou ritmos e gêneros diversos, do canto figurado árabe de seus antepassados às síncopes do samba brasileiro e da cumbia colombiana, da alegria do merengue cubano à energia do rock pop e do reggaeton. Sem deixar de mesclar tango e salsa e continuar suas investigações folclóricas. Essa força multicultural a diferenciou de rivais americanos como Britney Spears e Ricky Martin, que se limitavam a um pop convencional quando a colombiana invadiu as rádios, em 2001. Seu maior êxito foi na Copa do Mundo de 2010. Ela cantou “Waka waka”, uma fusão de euforia latina e dança africana.

Os shows que ela faz em Porto Alegre (dia 15), Brasília (24) e São Paulo (19) deverão marcar o triunfo do ecletismo de Shakira também no Brasil. Ela vem divulgar seu sétimo disco de estúdio, SALE EL SOL (Sony), e chega após 57 shows de uma turnê que já percorreu Estados Unidos, Europa e América Latina e irá até junho. A mistura de inglês e espanhol – e até línguas africanas – já se impõe sem rejeição, a ponto de um dos maiores sucessos do disco Sale el sol ter o título em espanhol. O resultado é o pop universal, do qual só Shakira parece conhecer o segredo.

Fonte: Revista Época
Por: LUÍS ANTÔNIO GIRON E MARIANA SHIRAI

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