Minutos antes de subir ao palco para se apresentar em Bucareste, Shakira se encontra com Shanziana, uma garota de 17 anos que, como havíamos visto um pouco antes, a imita como poucas. Seja em espanhol ou em inglês, a romena sabe cantar à perfeição músicas da colombiana. No momento breve, Shanziana chora com a calorosa acolhida. Mal consegue falar meia dúzia de palavras com a cantora. A cena é um dos extras do DVD Shakira – Live from Paris, registro definitivo da turnê que contou com 112 shows em 42 países, incluindo o Brasil.
Esse momento explicita bem o peso que Shakira tem hoje no mundo pop. Nos anos 1990, quando surgiu, era mais uma cantora tentando seu lugar ao sol no mercado latino. Fez algum sucesso, inclusive no Brasil (era convidada frequente do Gugu), mas ficou nisso. Como todo aspirante do gênero, queria na verdade era “fazer a América”. Aloirou, emagreceu, investiu no inglês e conseguiu. Em vez de se acomodar, resolveu ir além. Investiu em trabalho social, aliou-se a organizações de cooperação internacional, virou embaixadora da Unicef, começou a viajar meio mundo para discutir ações contra a pobreza.
Shakira é do mundo, e o show, registrado durante duas apresentações no Palais Omnisports de Paris-Bercy, em junho de 2011, comprova isso. Ela não é a mais bonita das cantoras. Tem um lado kitsch fortíssimo que a fama e o sucesso não conseguiram amainar. Mas seu apelo de palco – dança como nenhuma das cantoras do primeiro time do pop jamais conseguiu – fez com que se distinguisse no meio.
Abre o show atravessando a plateia com uma capa rosa-shocking de doer os olhos. Ao subir ao palco, já com a vestimenta (geralmente mínima) que lhe concerne, encanta sua plateia com seus principais hits. Mesmo em território francês, o público canta de cor e salteado a letras de canções como Ciega sordomuda, Si te vas, Loca. A porção em inglês aparece em Whenever, wherever, Hips don’t lie, Waka waka (This time for Africa). Há, inclusive, uma homenagem aos anfritriões, quando ela canta, intercalando francês e espanhol, Je l’aime a mourir, de Francis Cabrel.
Não há grandes efeitos especiais, somente algumas trocas de roupas (todas, sem exceções, sofríveis). Mas Shakira ganha a plateia com repertório conhecido, bom envolvimento com a trupe (além da banda, há duas dançarinas) e um carisma e uma simpatia que nem toda a produção do mundo podem comprar. O mérito é todo dela.
Resenha: Mariana Peixoto – EM Cultura