A She Wolf de Shakira: Pop Global Para O Lobo Dentro de Todos Nós
Pela loucura que o cerca, o amis recente album de Shakira é futurista e estranhamente pessoal
Por James Montgomery
A sabedoria convencional diz que não se deve analisar um disco depois que o mesmo já se encontra nas lojas há mais de um mês (fora do país, claro), mas quando o cd em questão é descrito como “maluquice cativante” e “fantasticamente estranho” e abre com um primeiro single que remete ao disco music italiano e que possui a palavra “lycantrophy” (licantropia), bom, é necessário ignorar a sabedoria convencional e simplesmente ir a diante.
Então, sim, essa é minha tomada no novo cd de Shakira, “She Wolf” (que chega às lojas dos EUA, na próxima semana, com uma porção de faixas bônus), um bombom com espírito pop/disco sensual e grudento que é todo quadris e lábios e aplausos, com ocasionais sinos e clarinetes (ou trompetes / electro jovial / gritos de Matt Damon) distribuídos na medida certa. É realmente tão bom quanto os críticos advertiram e quase 50% mais louco do que eu poderia imaginar.
Sim, é um grande álbum pop, certamente um dos melhores do ano (empatado com “It’s Not Me” de Lily Allen, e “All I Ever Wanted” de Kelly Clarkson), e, claro, ouvir os versos queixosos de Shakira, como “devo admitir, Californa é um lugar que respeito!” ou “espero que as moscas francesas devorem vocês dois vivos!” é infinitamente divertido. Mas o que mais gostei em She Wolf é que, apesar de todo os zumbidos efêmeros, é realmente um álbum consistente e estranhamente pessoal – um fascinante, agitado e divertido.
Porque, no fundo, She Wolf é simplesmente a empreitada de Shakira em fazer um álbum eletro-pop. E as canções aqui apresentadas são suas versões de musica dance: canções multi-culturais, mutantes e que funciionam como pontes entre estilos (e eras) escritas por uma pop star colombiana fluente em inglês, português e italiano, finalizadas com o toque de um esquadrão de produtores mundiais (the Neptunes, Timbaland, Wyclef, John Hill, Amanda Ghost, etc.).
É um tipo de música que não poderia existir em outra era – algo totalmente século XXI, global – feito por uma mulher cuja carreira não seria possível em outro período da história.
É assim que temos canções como “She Wolf” – o louco primeiro single que embarca em uma linha disco italiana (escrito por Hill e Sam Endicott, do Bravery) onde Shakira uiva para a lua (e se compara a uma maquina de café) e “Long Time”, que é marcada por um solo de clarinete romeno. Isso certamente explica canções como “Good Stuff”, uma faixa eletrônica genial que, no refrão, se transforma em “La Isla Bonita”, ou a excelente “Men in This Town”, faixa que começa na Califórnia, mas termina como uma canção disco em Júpiter (é também na qual Shakira, abertamente, anseia por Matt Damon).
Então, basicamente, não é nenhum exagero afirmar que She Wolf é o álbum mais pessoal de Shakira. É o dance music como ela ouve em sua própria cabeça, sem filtros. E isso também serve para as letras, carregadas com culpa (“Did it Again”), maldade (“Mon Amour”, que termina com Shakira cantando/falando ‘Passageiros com destino ao inferno, estamos prestes a aterrissar agora) e – principalmente – luxúria (“Long Time”, “Why Wait” e “Spy”). São emoções imperfeitas, e ela não tem vergonha de senti-las. Alias, são, provavelmente, suas confissões.
Claro, isso todo é besteira de críticos nerd. O verdadeiro potencial de She Wolf está em sua habilidade para com as pistas de dança. Das 10 canções do CD – a versão americana vem com seis faixas adicionais, onde três são versões modificadas de musicas já existentes, duas são versões ao vivo e uma com a participação de Lil’ Wayne – apenas uma (“Gypsy”), não te faz querer mexer os quadris imediatamente, o que faz deste um dos discos mais preparados para a noite do ano.
É impressionante e pop profundamente pessoal para todos. Existe uma loba (ou talvez, um lobo) dentro de todos nós, e esta é sua trilha sonora das noites de sábado. Ou, como Shakira mesmo diz: “Awoooooooooo!”