Este ano marca a tentativa de Shakira, o colosso orgulhosamente colombiano, de tomar de assalto as paradas musicais do verão. No verão de 2001, ela nos informou que seus seios eram pequenos e humildes e que não os confundia com montanhas em ‘Whenever Wherever’. Em 2006, ela nos disse que seus quadris não mentem. Este ano, porém, ela mostra os dentes com sua mais poderosa canção: ‘She Wolf’, que lembra mammoth Balearic,na qual ela nos diz ser uma estudante da lua, uma loba presa no armário, antes de uivar –sim, uivar – no fabuloso refrão. Este uivo não é apenas desinibidamente sensual. Ele nos mostra como pop stars ganham muito de seu poder sobre nossas imaginações nos persuadindo de que são, de fato, mais do que humanas. De qualquer forma, vemos os pop stars como animais muito diferentes: Na pior das hipóteses, monstros criados por Frankensteins; na melhor, uma espécie bem mais sortuda do que nós, plebeus. Porém, pop stars também são de carne e osso. Eles têm pais e mães com quem discutem, contas pagar e hábitos sanitários com os quais cumprir – e não apenas aqueles que envolvem talco na tampa da privada. Admitidamente galantes e estilosas, podem enaltecer seus egos e seus corpos, mas ainda precisam de vídeos caros e espetáculos para fazê-los parecer – e, principalmente – se sentir maiores do que a vida. Personas sobre-humanas tem sido durante muito tempo uma maneira de fazer o serviço. David Bowie usou o etéreo Ziggy Stardust, um alienígena humanizado, e o Thin White Duke, um ariano bem vestido, para distanciá-lo do menino de Beckenham. Funcionou – sua estrela se tornou intergaláctica. Uma década mais tarde, Michael Jackson elevou o pop ao seu auge ao se transformar em um lobisomem no vídeo de Thriller, mostrando a sua namorada, assim como a seus fãs, que realmente “não era como os outros rapazes”. Bowie e Jackson se tornaram figuras mitológicas no Canon pop de forma memorável, levando suas imagens para além de seus contemporâneos e permitindo um nível extra de lúgubre, porém glamorosa identidade. Nos anos noventa, porém, os alter-egos do pop deram uma guinada. Na Zoo TV tour, do U2, Bono se transformou em Fly, Mr MacPhisto e Mirror Ball Man – paródias de uma estrela do rock, um viçoso demônio e um homem apaixonado por seu próprio reflexo. As atitudes pareceram gestos arrogantes de um homem apaixonado o bastante pelas próprias ações para satirizá-las e o U2 foi associado à presunção – então, quando Bono reclamasse pelo título de melhor banda de rock n’ roll do mundo, devia ser como um velho e simples grupo de rock. A estrela da música country Garth Brooks cometeu um erro similar, embora em seu caso o erro tenha sido, talvez, não ser sobre-humano o bastante: em 1999, ele aderiu ao alter-ego de Chris Gaines, um cantor de rock ficcional que não apreciava as pressões da fama. Os fãs de Brooks não se impressionaram e ele deixou de ser a maior estrela do country nos Estados Unidos para ser apenas mais um. Parecia que as personas alternadas passaram a tratar mais das experiências com a fama das próprias estrelas do pop do que do novo mundo ao qual elas poderiam levar seus fãs, como Bowie e Jackson fizeram. As estrelas do pop começaram a pensar que suas próprias existências eram objeto de fascinação, que não precisavam trabalhar para criar glamour – em seu sentido original de feitiço, encantamento. Mesmo quando artistas recentes tentaram criar novas personas – como a Sasha Fierce de Beyoncé, por exemplo – estiveram se revirando para contar como os criaram e como elas os permitem explorar diferentes tipos de música. Isso não é mágica, e sim negócios. As glórias vão para Shakira, cujo projeto é apropriada e maravilhosamente estranho, incorporando uma campanha de vídeos virais que tratam de visões da loba ao redor do mundo. Isto é voltar às regras antigas as atualizando para um mercado mais cauteloso e devia ser bem sucedida. O refrão contagiante uiva sua mensagem de forma poderosa e mostra como Shakira, uma mulher poderosa e uma estrela de nível global, sabe como lidar com a mitologia pop. Lembre-se disso quando a loba tirar um pedaço de você também. Fonte: Guardian