Conheça a lenda de El Dorado

Muito já se ouviu sobre a lenda de El Dorado, uma cidade que seria feita toda de ouro e que se localizaria em uma determinada área, provavelmente entre Colômbia, Venezuela e Brasil. Com o anúncio que o novo álbum de Shakira se chamará El Dorado, trazemos para vocês a história dessa lenda que causou uma grande revolução sociocultural na América Latina.

Começo da História

Com a chegada dos espanhóis ao chamado ‘novo mundo’ para a exploração da terra em busca de ouro (moeda corrente no século XIV), o povo pré-colombiano (ou seja, antes de Cristóvão Colombo chegar à América), sofreu um grande embate, com a dizimação da população e com a conversão à cultura hispânica. Ao se depararem com ampla utilização do ouro como adorno e parte das construções, os conquistadores europeus ficaram ainda mais sedentos pela extração do material e, ao ouvir a lenda, contada pelo índio, de uma cidade totalmente constituída de ouro, que estaria em território que é da Colômbia, a obsessão por essa fonte dourada levou diversos exploradores ao território colombiano.

A ambição e a curiosidade pelo El Dorado atraíram os Espanhóis até à Amazônia portuguesa. No entanto, as expedições organizadas, como as de Pedro Fernandez de Lugo, Gonzalo Quesada, Gonçalo Pizarro, Pedro de Ursua, em vários locais do Norte da América do Sul, nomeadamente, junto ao rio Orinoco, ao rio Negro, no lago de Guatavita, revelaram-se difíceis e sem sucesso.

O que se descobriu posteriormente é que não havia uma cidade em si feita de ouro, mas que um príncipe, um líder local, em um ritual pagão, despia-se de suas vestes, cobria-se de ouro e adentrava um lago, considerado sagrado na região, como oferenda aos deuses locais. A população também o acompanhava às margens do lado cobertos de ouro e ao som de música.

Tratado como um ritual de passagem, tal cerimônia era realizada pelo povo muisca, que desde o ano 800 DC habita a região central da Colômbia.

No livro de Juan Rodrigues Freyle, La conquista y descubrimiento del reino de la Nueva Granada, publicado em 1636, ele conta que quando um governante do povo muisca morria, iniciava-se um processo de sucessão.

Ritual

O novo líder escolhido, normalmente um sobrinho do governante anterior, passava por um longo processo de iniciação. O clímax desse processo era uma cerimônia em que o novo líder, em cima de uma jangada, entrava em um lago tido como sagrado – como, por exemplo, o lago Guatavita, na Colômbia Central.

Rodeado por quatro sacerdotes enfeitados com penas, coroas de ouro e ornamentos, o líder – nu e coberto apenas por pó de ouro – entrava no lago para oferecer aos deuses objetos de ouro, esmeraldas e outras preciosidades, que ele jogava no lago.

As margens do lago circular ficavam repletas de espectadores ricamente enfeitados, tocando instrumentos musicais. Fogueiras queimavam, quase bloqueando a luz do dia. A jangada também levava quatro queimadores de incenso que jogavam nuvens de fumaça para o céu.

Quando a embarcação chegava ao centro do lago, um dos sacerdotes erguia uma bandeira para pedir silêncio à multidão. Isso marcava o momento em que o povo reunido em torno do lago prometia lealdade ao novo líder, emitindo gritos de aprovação.

O ouro da sociedade muisca – mais especificamente, uma liga contendo ouro, prata e cobre chamada tumbaga – era altamente procurado, não por seu valor material, mas por seu poder espiritual, sua conexão com divindades e sua capacidade de trazer equilíbrio e harmonia para a sociedade muisca.

Como explica Enrique Gonzalez – descendente dessa etnia -, para seu povo, o ouro não simboliza prosperidade.

“Para os muisca hoje, assim como para nossos ancestrais, o ouro não era nada mais do que uma oferenda”, disse. “O ouro não representa riqueza para nós”.

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