Confira a entrevista exclusiva de Shakira para Clarin:
Com o novo disco, a estrela colombiana recebeu Clarín em Miami e falou de tudo. Seu amor por Piqué e sua família e a vergonha por compor canções eróticas. Também, de sua relação com Antonella Rocuzzo, a mulher de Messi.
O gravador já está ligado, mas Shakira “tá que tá” com seu celular.
Com um look para uma sessão de fotos que acaba de terminar, não está, o que se diz, a vontade: penteado, saltos, maquiagem, um short curto e blusa sem mangas. O tempo passa e pedimos a assistente que cronometrasse os vinte minutos de entrevista que, como no futebol, acrescente a prorrogação. De repente, Shakira se dirige a outra moça de seu staff: “Pode chamar Gerald e avisar que fiquei sem bateria e que tenho quatorze notas adiante?”. Sorri e diz: “Que vai ter que ir dormir sem minha ‘boa noite'”. Assim, o recado da estrela pop para a estrela do futebol que é seu marido, o central do Barcelona, Gerard Piqué (concentrado esta hora para jogar na Copa do Rey contra o Alavés), se faz congruente em meio a tantas mensagens que o envia em El Dorado, seu primeiro disco em três anos. “Não serve de nada chegar ainda mais longe, nem toda a fama nem todo o dinheiro”, canta na balada Nada, sobre momentos assim.
Então, Shakira Isabel Mebarak Ripoll, nascida em Barranquilla há 40 anos e três meses, fala da lenda de El Dorado, a ancestral fábula de sua terra que dá nome ao álbum. “A história é que existia um tesouro perdido, que estava submerso na lagoa Guatavita, em Cundinamarca, Colômbia. Durante a época da conquista, os espanhóis o perseguiram e se transformou, para muitos, em um lugar sagrado. E para outros, em um estado mental e espiritual ideal. E é o lugar que as vezes ponho em dúvidas quando tenho que avançar em um projeto e penso e dou mil voltas”.
E quantas deu a este?
Antes deste disco, durante umas semanas entrei em uma espécie de pânico. E o conflito me era dado pela disjuntiva ou dualidade de ser mãe e criadora. De saber que meus filhos precisam atenção e que a artista também estava clamando, desesperadamente, dedicação. Assim que, inicialmente com muita resistência dentro de mim, acreditei que não ia ser capaz de criar outra vez. Sem dúvida, com o apoio de minha família, consegui reencontrar El Dorado, confirmar que não havia ido para nenhum lado, se não que estava sempre ali.
O disco parece mais uma miscelânea de singles com diferentes motivos e sonoridades que um conceito.
Exatamente é o que é. Nunca quis fazer álbuns procurando uma unidade sonora, nunca fui assim. Sempre que entro em um estúdio de gravação me permito ir em qualquer direção. Mas desta vez essa liberdade a experimentei mais que nunca quando me dei conta que não tinha que ir trabalhando em um álbum, em um corpo de canções. Isso me mudou o chip. Parte deste pânico era nada mais do que me imaginar fechada em um estúdio, rodeada de máquinas, de instrumentos musicais pelos próximos 15 meses. Me oprimia.
E como pôde destravar esta situação?
Depois de lançar La Bicicleta. Quando saiu esta canção com Carlos Vives, senti outra vez a adrenalina de poder compartilhar a música com o público. Era um paradoxo: se supunha que ia ter que me meter a fazer música, mas ia estar deixando o prazer de fazê-la e da imediatez de compatilhá-la. E quando me dei conta que podia deixar esta metodologia, senti uma liberação. Todas estas coisas que tinha para dizer, se liberaram como uma represa. Deixei sair. Quando disse que não queria fazer um álbum, foi quando o fiz. Poder fazer um chamado e dizer: “Sabia que tenho 13 canções?”.
Se sente lisonjeada quando disseram que um par de temas (Amarillo e Coconut Tree) se aproxima do tom de Stevie Nicks. “Ela tem um vibrato mais rápido que o meu. É uma honra”. E envia um tweet a seus 45 milhões de seguidores, que algumas horas mais tarde, se materializará em um show surpresa e exclusivo no Wynwood Yard, para 200 fãs.
“Dale una prueba/Ponle Nutella”. Esta frase que te disse Maluma em “Trap” vai ficar…
O conteúdo é tão erótico que em um momento senti que era demais, que me dava vergonha mostrá-la.
E olha que você fez canções sugestivas.
Mas esta está dentro do terreno do erotismo. E literalmente tinha pudor de mostrá-la, primeiro a minha equipe. E fiz a eles um discurso antes, quase que pedi desculpas. “Bom, vamos escutar algo que…” E aí foram os restos da menina de colégio católico que ainda ficavam em mim. É uma das minhas canções favoritas do álbum. Me enlouquece. Quando a escutamos finalizada, disse a Maluma: “Olha, me parece que passamos do limite”. E ele: “Nãoooo, Shaki. Está muito boa, muito bacana” (risos) “Não, Juan, passamos do limite, eu não posso colocar isso”. É uma das mais modernas do disco. Sonoramente, me parece uma viagem.
A idéia de flertar com um gênero tão moderno como o trap é uma forma de dar alcance a divas como Beyoncé ou Rihanna?
Não, não posso me fixar no que fazem os outros, porque não sou eles. Há um oceano entre elas e eu. Porque não sinto desta maneira. Porque tenho uma sensibilidad muito específica e não posso reproduzir os sons que fazem os outros. Se eu tentasse, se notaria. E perderia. Ganho mais quando sigo meu próprio caminho. Quando sou obediente com minhas origens e meu instinto, com meus próprios desejos.
Algo muito seu, por exemplo, é o exagero. Em “Toneladas” fala de ser muito feliz, com “toneladas masivas de amor”.
Sou exagerada dos pés à cabeça, não tenho remédio.
Custou muito convencer Piqué para que saísse no vídeo de “Me Enamoré”? Em um disco com vários convidados…
Ele é o convidado mais especial! Olha, não custou nada. Em seguida, me disse que para o que precisasse dele, estaria ali. O que custou mais foi encontrar a forma de que estivesse ali e que fosse o mais elegante e intrigante possível. E que também preservássemos nossa relação. Ainda que aparecesse, tinha que ser interativo. Algumas situações são de caráter real, como a da guerra de comida (risos). Me dei conta que o melhor era que aparecesse por partes: uma orelha, uma mão, um pé. Até o final. É uma canção dedicada a ele: não podia fazê-lo com um modelo da Guess.