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Shakira fala sobre infância, maternidade e o que deve ser feito pelos pequenos, ao jornal Metro

Muitos países latino-americanos têm entendido que adotar programas para incentivar a primeira infância é um investimento que dá frutos no longo prazo. Mesmo com inúmeras iniciativas na região, ainda faltam esforços. As estatísticas dão as pistas: só na América Latina 37% de crianças menores de cinco anos mortas são recém-nascidas que não receberam os cuidados adequados.

A cantora colombiana Shakira, embaixadora da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e comissária da Casa Branca para a educação de excelência para os hispânicos dos EUA, está à frente de duas iniciativas preocupadas com a primeira infância. Uma delas, a Fundação Pés Descalços, foi criada em 1997 e atende hoje mais de 6 mil crianças, segundo a cantora. Além delas, mais de 60 mil jovens e adultos de comunidades carentes na Colômbia são atendidos.

O movimento Alas (“asas”, em espanhol), foi criado em 2006, também voltado a implementar políticas públicas para fomentar o cuidado dessa etapa inicial da vida. Considerada a cantora latina com maior projeção no mundo, Shakira diz viver um bom momento, tanto no meio musical como na vida pessoal.

 

Em que idade começou seu interesse para apoiar os temas da infância na Colômbia?

Lembro-me de quando eu era pequena e meus pais me levaram a um parque onde crianças andavam descalças e cheiravam cola para não sentir fome. O fato de que elas não teriam oportunidades para melhorar sua situação me marcou para sempre. Foi a primeira vez em que me dei conta da desigualdade e da injustiça. Já nesse momento eu sabia que, se tivesse sucesso na carreira profissional, deveria fazer algo para ajudar essas crianças e conseguir os direitos básicos delas, como educação de qualidade, saúde, carinho, nutrição e uma dieta que permitisse o desenvolvimento de suas capacidades físicas e intelectuais.

 

Você admira algum filantropo ou líder mundial que trabalhe com os temas da infância?

Uma grande pessoa, que eu admiro muito, é (o empresário  norte-americano) Howard G. Buffett, um amigo com quem pude trabalhar em projetos pela infância do meu país (a Colômbia) e um colaborador de muitos anos, tanto quanto (o investidor colombiano e norte-americano) Alejandro Santo Domingo.

Michelle Bachelet (presidente do Chile) também tem feito muito para que as crianças de seu país possam ter acesso a uma educação de qualidade e seguir em frente. Acredito que (o executivo norte-americano e ex-CEO da Microsoft) Bill Gates é outro exemplo de um filantropo que percebeu a importância de investir em educação por meio de sua própria fundação.

 

Essa é uma época importante para você. Você está grávida de seu segundo filho e vive um momento de êxito na carreira. Como sua percepção sobre as crianças mudou depois de tornar-se mãe? 

Virar mãe reafirmou o valor que o meu trabalho em favor da infância tem para mim. Sempre soube que as crianças são o maior capital que temos, mas agora com o Milan (seu filho), pude aprender ensinando.

Ter uma pessoa que depende 100% de você, de seu cuidado, de sua atenção, de seu tempo me fez ressaltar o valor que tem estimular cada vez mais cedo a primeira fase da infância. Pude ter essa comprovação em casa, de que trabalhar pelas crianças funciona. São os primeiros cinco anos de vida, a fase em que o cérebro se desenvolve com uma rapidez incrível. Cerca de 85% da estrutura básica do cérebro de uma criança é determinada em seus primeiros quatro anos de vida.

Agora, mais do que nunca, estou convencida de que uma infância feliz, saudável e segura não deveria ser um privilégio para alguns, mas para todos. Dói em mim pensar que ainda há meninos e meninas que morrem por desnutrição, que não recebem os cuidados necessários e que se encontram em desigualdade social.

Meus filhos vão ter bem claro o sentimento de responsabilidade e de compromisso com a infância. Somos responsáveis pelas gerações futuras. As crianças de hoje serão os adultos e líderes de nossas nações em um futuro próximo… Não podemos permitir um futuro incerto para nossa região e para o mundo.

 

Dentro de seu repertório há alguma música que tenha sido inspirada nas crianças ou na infância?

Não, mas a Fundação Pés Descalços (Pies Descalzos, em espanhol) leva esse nome por causa de um dos meus discos, aquele que foi lançado na mesmo época em que iniciei a fundação e representa aquelas crianças que conheci quando era ainda pequena.

 

Como você vê o compromisso das organizações globais e da Colômbia a propósito do fortalecimento da primeira infância?

A Alas (Fundação América Latina em Ação Solidária) foi criada em um momento em que o desenvolvimento da primeira infância não era um tema prioritário em termo de políticas públicas e de investimento social de impacto na América Latina.

Atualmente, há uma compreensão maior sobre a importância de assegurar um ambiente saudável, seguro e enriquecedor para o desenvolvimento das crianças nessa fase da vida. Baseados em evidências científicas, hoje em dia os governos reconhecem que há um grande potencial na erradicação da pobreza e da desigualdade social se proporcionarmos bases sólidas desde a primeira infância. Nesse sentido, o compromisso e o investimento das nações é cada vez maior.

Fonte: Metro

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